O Rei Cego
A primeira vez que ouvimos falar do inimigo, estava muito longe. Na distante província de Wuhan, na China.
Os mais preocupados, pensaram que talvez estivéssemos diante de uma nova gripe aviária. Uma nova H1N1, no máximo.
Então, assistimos, sem compreender bem, ao colapso do sistema de saúde do norte da Itália. Como assim, um microscópico vírus faz com que se feche os maiores e mais importantes museus, praças, palácios da Europa? Um continente tão preparado, antigo e calejado por diversas guerras…
Mas, perplexos, vimos cair, diante do inimigo, um a um, países fortes e organizados: Espanha, Alemanha, França, Rússia… até mesmo a grande potência mundial, os Estados Unidos da América, dobrou seus joelhos frente ao Sars-cov-2, o “novo corona vírus”.
E chegou a nossa vez. De repente, o inimigo estava entre nós, população civil brasileira. E onde estava este inimigo? Talvez escondido em nossas roupas? Nossas mãos, nossos cabelos? Nas compras de supermercado? Dentro dos nossos melhores amigos? Os nossos familiares podem nos contaminar? Nós, tão calorosos, não podemos nos abraçar, nos beijar?
Em meio a dúvidas e incertezas, alguns optaram por negar a existência do inimigo invisível. Outros, agarravam-se a possibilidade de curas milagrosas, que a ciência jamais comprovou. Outros, ainda, trancaram-se em suas casas, na esperança de que o inimigo não ousasse invadir o sacrossanto espaço de seus lares…
Nas frentes de batalha, profissionais da saúde enfrentavam, de peito aberto e coração partido, a guerra inglória contra o inimigo implacável. Sem recursos de proteção ou armamentos suficientes, os guerreiros brasileiros foram os que mais pereceram nesta luta cruel.
Uma primeira onda veio e se foi… Houveram muitos doentes, sim. Baixas, claro… afinal, é uma guerra… mas muitos pensaram: não foi tão ruim assim, certo?
Errado. O inimigo, com a sua natural inteligência, transmutou-se. Trocou de armadura, aperfeiçoou seus métodos. E, qual hostes bárbaras de outrora, voltou a golpear um mundo ainda atordoado.
E aí, sim, chegou nossa vez, para valer! No Brasil, estamos enfrentando o auge da guerra contra este inimigo feroz. Poucas famílias não foram tocadas por seu veneno. Poucos dentre nós não estão hoje chorando a perda de seus entes queridos: um pai, mãe, tio, aquele amigo querido…
Outros tantos sofrem, angustiados, rezando pelos seus, que neste momento, lutam por suas vidas em hospitais lotados, aguardando por escassos leitos de UTI, assombrados por fantasmas da falta de insumos básicos para a sobrevivência: medicamentos fundamentais, e o próprio oxigênio que nos permite viver.
Governos do mundo todo mobilizam-se na busca pela única arma que, em médio prazo, é capaz de vencer o inimigo: a vacinação em massa da população.
No nosso país, no entanto, encastelado em seu palácio, o rei minimiza a força do inimigo, ridiculariza quem tem medo dele, nega os conselhos de seu melhor general, a ciência, incentiva o uso de medicamentos sem eficácia comprovada e ignora as poucas medidas de proteção existentes contra o vírus.
Este rei, diferente de seus pares, não lamenta e chora a perda da vida de mais de 300 mil de seus súditos.
Este rei, ao contrário de grandes estadistas, politiza e até tenta fazer seu povo temer e evitar a única arma eficaz contra o inimigo poderoso e invisível, ceifador de vidas inocentes: a vacina, seja ela qual for, e venha de onde vier.
Pobre povo, aquele que vive no país governado pelo
Rei Cego.

Excelente artigo,resenha perfeita da pandemia brasileira
Obrigada, Oscar! A ideia do texto era mesmo resumir a pandemia no Brasil e no mundo, e o descaso do governo federal com o povo brasileiro!
Belo o comentário. Belo, triste, com objetivo definido e triste. O objetivo, que consegui captar é um alerta quanto ao perigo do vírus. Eu perdi familiares. E uma critica ao rei que não enxerga, ou esconde a real gravidade do Covid.
Excelente exposição.
Boa sorte.
Olá, Luiz! Obrigada pelo comentário! Vc pegou exatamente a essência da “fábula” do Rei! É muito triste quando o governante não prioriza a vida de seu povo…
Ótimo texto! Parabéns Ana e Onda Livre pelo belo trabalho que vêm fazendo.
Obrigada, Levindo! Estamos fazendo o nosso melhor para ajudar a melhorar o cenário político deste país.
Texto excelente!
Muito lúcido, realista e em poucas linhas resume tudo.
Clauber
Obrigada, Clauber!